O poder de mudar o mundo

Li hoje no jornal Le Monde: “Avec suffisamment de passion, chacun de nous peut changer le Monde” – Com suficiente paixão, qualquer um de nós pode mudar o mundo. Minha primeira reação foi a de rejeitar a idéia. Pensei: “por mais que seja apaixonado por Jesus, e por mais paixão que possa empregar na luta por convencer o mundo a viver uma vida digna do filho de Deus, não posso transformar o mundo. Não posso transformar os valores compartilhados, o ideais, o contrato social”.

Depois de considerar um pouco mais a questão, percebi que estava misturando dois conceitos: mudar pessoas é uma coisa; mudar o mundo em que vivem é outra. Então percebi que, na verdade, é bem possível mudar o mundo. E há poder para mudar o mundo no próprio mundo. Grandes heróis e simples donas de casas já mudaram o mundo. A navegação continental do séc. XIV mudou o mundo. A revolução industrial mudou o mundo. A genialidade de Albert Einstein mudou o mundo. A teimosia de Rosa Parks, ao não ceder seu assento no ônibus, mudou o mundo. Mudar o mundo, realmente, requer apenas paixão suficiente. Talvez um pouco de espaço na mídia ajude.

Isso me ajudou a entender um pouco melhor, e apreciar um tanto mais, o amor de Deus por nós. “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” [1 Jo 5:19]. Mas, quando estávamos mortos, jazendo no mundo, e o mundo inteiro morto, jazendo no Maligno, fomos resgatados, redimidos, regenerados, ressuscitados. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” [Jo 3:16]. O Senhor veio e nos salvou nesse mundo. Ele não veio mudar o mundo para ganhar as pessoas do mundo. Ele veio ao mundo para salvar pecadores, para dar-lhes um novo e vivo caminho. O mundo simplesmente não importa mais. Não estamos presos a ele, e sua condição não é mais, necessariamente, nossa condição.

E quando penso em fazer com que as pessoas reajam ao sacrifício de Jesus na cruz, que reajam amando ao Senhor e entregando-se a Ele, o que pretendo é mudar as pessoas, não o mundo. Mudar o mundo é simples, mas mudar pessoas é o desafio impossível. Nem mesmo uma lavagem cerebral, nem mesmo um sistema de controle intenso e avançadíssimo pode mudar uma pessoa.

Mas Deus pode mudar pessoas. Ou melhor, só Deus tem competência para mudar pessoas. Para mudar quem somos e para transformar as pessoas à nossa volta. Essa, aliás, é a obra prima de Deus: nossa transformação. O grandioso Deus, que estendeu os céus, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro dele, tem uma obra maior, mais perfeita e completa, a obra que melhor expressa a suprema grandeza de Sua sabedoria: a transformação genuína daqueles que Nele crêem.

Creio que foi com esse mesmo sentimento que o apóstolo Paulo escreveu: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” [Fp 1:6]. A boa obra de Deus é fazer-nos seres humanos completos, com liberdade para escolhê-Lo e para efetivamente viver essa escolha, para sempre. A condição mortal, pecaminosa, sujeita ao engano da concupiscência dos olhos e da soberba da vida, nos faz menos do que homens. Nos faz menos do que o homem criado por Deus do pó da terra. E a salvação em Jesus não apenas nos traz de volta àquela condição original, ela surpassa em muito e nos eleva à condição de uma nova criação, um novo homem. Uma criação que não é baseada no pó da terra, mas em justiça e retidão, procedentes da verdade [Ef 4:24].

Essa transformação maravilhosa começou em nós no dia em que recebemos o evangelho. O evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. O evangelho que é o poder de Deus para mudar as pessoas do mundo, livrá-las do mundo. E toda essa conversa sobre mudar o mundo – que inicialmente despertou em mim o pensamento derrotista de ‘desistir’ do mundo – acabou por despertar e aumentar em mim a percepção do amor de Deus e, consequentemente, a paixão pelo evangelho. Pode ser que nem todas as pessoas aceitem a salvação pela fé no evangelho, mas o evangelho é suficiente para todas as pessoas. Nessa semente incorruptível está o poder para transformar o mundo inteiro, toda e cada pessoa no mundo. Eu não tenho poder para mudar pessoas, ou mesmo para mudar o mundo, mas posso evangelizar. Posso me tornar cooperador do evangelho. Paulo também percebeu isso, e declarou: “Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele” [1 Co 9:23]. Também posso receber e ajudar aqueles que estão evangelizando o mundo, pois, como disse o apóstolo João, “devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade” [3 Jo 1:8].

Graças a Deus!

 

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