Obediência é contrária à afirmação da Verdade

A obediência dos fiéis ao que a instituição religiosa manda é o comportamento que pontua o sistema de governo hierárquico da igreja.
Obediência é o que os chefes dessas instituições esperam quando determinam alguma “doutrina” na igreja.
Aceitação e aquiescência a tudo que se propaga sobre os púlpitos religiosos é o que os líderes incentivam.
Questionar é duvidar, e quem duvida é do diabo.
Questionar é levantar contra o “ungido” do Senhor.
Questionar é murmurar. E os murmuradores serão tragados pelo inferno.
Esse é o discurso.
Obediência resignada. Aceitar tudo. Submeter-se às determinações do superior, sem murmurar. Isto é a imagem perfeita de um verdadeiro cristão na ideologia do cristianismo institucionalizado. Isto é ensinado, cobrado, e requerido porque presume-se que a instituição religiosa engloba todo conhecimento sobre Deus e que ela é guardiã de toda a ciência e de toda a verdade a respeito do Reino divino.
Por conseguinte, fidelidade aos chefes da igreja é proclamada como fidelidade ao próprio Deus.
Biblicamente, e historicamente, nota-se que o comportamento submisso e a subserviência sempre andaram do lado oposto ao da verdade e do direito. E sempre foram instrumentos utilizados para controlar as massas nos sistemas autoritários, que presumimos, não deveria ser o caso de uma comunidade cristã.
No cristianismo, sempre que se precisou desmascarar um erro teológico ou doutrinário, houve necessidade de se quebrar as regras impostas por aqueles que pretendiam ter a supremacia religiosa.
Perante os sacerdotes, escribas e toda cúpula religiosa judaica, Cristo foi um desobediente e herege, por isto foi crucificado.
Os primeiros apóstolos foram mártires porque ousaram desobedecer a leis, ordenanças e regras que já não tinham validade para eles. Idéias que eram impostas pela vontade de quem mandava na religião. Ao que respondiam: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens.
Percebe-se que o comportamento submisso e obediente só se manifesta num ambiente em que alguns indivíduos se vêem mais frágeis, mais fracos, e inferiores a outros. O indivíduo submisso é sempre um que não se vê em igualdade de direitos e de condições em relação ao outro, e por isto se submete. Ele sempre se acha menos digno e menos capaz. E vê o outro como um ser superior, mais forte, mais digno, e com poder para lhe causar danos. E por causa dessa presumida inferioridade, submete-se à vontade do outro. E obedece àquilo que o outro determina influenciado pelo medo de se ver prejudicado.
O discurso religioso nas igrejas sempre procura incutir na mente do cristão que este é indigno, é pequeno, é incapaz. E por outro lado, sempre salientou que os ocupantes dos níveis superiores da hierarquia religiosa são mais dignos, mais sábios, mais fortes, ungidos, homens de Deus, homens santos. Ao pregar que alguns crentes são os escolhidos de Deus para ocupar os cargos de comando da hierarquia, a instituição sempre dá a entender que esses indivíduos são mais queridos por Deus, são especiais, “varões valorosos”. Ao falar em “subir no ministério”, ela dá a entender que existe degraus mais elevados, de mais importância. Consequentemente, o restante da cristandade são cristãos menos queridos, inferiores.
No entanto, é fácil perceber que num ambiente hierarquizado, onde os integrantes de escalões inferiores devem obediência e subserviência aos integrantes de escalões superiores de poder, não é a verdade que se manifesta e que se aflora das idéias, mas sempre vai prevalecer o interesse e o ponto de vista da autoridade superior. Ou seja, a vontade do mais forte, daquele que está no topo da hierarquia, que se julga mais digno, sempre é a que prevalece nesse tipo de organização.
E não é difícil concluir que esse espírito de submissão não é uma virtude louvável numa comunidade em que se diz primar pela valorização do próximo, pela justiça, pela igualdade e, principalmente, pela verdade. Nem tampouco é um comportamento aceitável num ambiente onde todos devem se considerar irmãos.
Evidentemente, num ambiente de igualdade, onde todos se reconhecem num mesmo nível e num mesmo patamar, como a mensagem do Evangelho preceitua, não há espaço para esse sentimento de inferioridade e nem tampouco para comportamento submisso. Onde todos se vêem com os mesmos direitos, com as mesmas obrigações, com as mesmas limitações, com os mesmos privilégios, com os mesmos valores e com as mesmas carências, também não pode haver sentimento de superioridade. Mas deve haver sempre o respeito mútuo entre os membros da comunidade. E aqui, as idéias e as vontades só prevalecem se estiverem revestidas de coerência e de razoabilidade, pois, a verdade não se submete à posição hierárquica de indivíduo algum. Ela é amiga da razão, do bom senso e da sabedoria. Ao contrário de onde há obediência e submissão, as idéias e as vontades prevalecem por causa do poder, da autoridade, da força e da presumida superioridade de quem as impõe.
Por outro lado, o crente, sob o regime de obediência às determinações de seus superiores, desenvolve um medo íntimo de não se achar merecedor das recompensas, do céu, ou da igreja. E a igreja institucionalizada sempre usou esse recurso supersticioso para submeter os cristãos aos seus ditames. Sempre tentou infundir uma espécie de terror psicológico nos fiéis a respeito dos terrores do inferno, da ferocidade do diabo e da iminência de maldições, em caso de desobediência às regras da igreja.
O que se pode dizer é que castigo eterno, as chamas infernais, os tridentes demoníacos, a rejeição do Senhor, a “mão” de Deus, maldições, sempre foram instrumentos de terror utilizados para submeter às pessoas ao jugo e à vontade de quem manda nas igrejas.
E os crentes, medrosos, resignados e submissos obedecem às “doutrinas”, não porque as acha coerentes, justas ou verdadeiras, mas porque têm medo supersticioso. Assim, não são livres. São escravos. Não são filhos. São servos.
Para complementar, o sistema também criou uma escala de cargos e títulos mais ou menos importantes para premiar os crentes obedientes ao regime eclesiástico.
Desta forma, a cobiça por títulos e o receio de perder os privilégios institucionais, fazem os crentes se calarem diante de injustiças, de mentiras e de doutrinas de exploração moral e financeira dentro das instituições.
Ou seja, obediência e submissão são comportamentos que estão muito ligados ao medo de castigos e de represálias, e mais intimamente, ao interesse de um dia estar no lugar de quem manda.
No entanto, o ambiente onde impera o medo e onde prolifera o interesse pessoal, é um ambiente absolutamente contrário à afirmação da “verdade”. Pelo contrário, é um ambiente propício à manipulação, ao domínio, à exploração, à extorsão e ao autoritarismo. A verdade, a seu termo, é sempre lapidada pela profecia. Profecia fala de denúncia, de protesto, de contestação. O profeta é um contestador. O profeta é aquele que mostra uma realidade ainda não vivida. É aquele que afirma uma verdade diferente da que comumente é aceita. Mas, ninguém, sob o domínio do medo, ou seduzido pelas vantagens de “fechar os olhos”, fala o que tem que falar. Sob o regime do medo, não há horizontes, não há esperança, não há profecia.
Obediência e submissão, pois, são comportamentos avessos à profecia. Avessos à verdade. E favorece, com muito evidência, ao autoritarismo, à covardia e à cobiça.

José Peres Júnior
jopejunior@yahoo.com.br

 

2 Responses

  1. Italo Says: Dec 19th,2011

    Esse site precisa ser mais divulgado. Mais pessoas precisam ler estas palavras e serem libertas. Libertas para o Senhor Jesus, o nosso único e verdadeiro Senhor.

    Percebo, muitas vezes, que não são todos os que querem se ver libertos, na verdade são poucos os que se dispõem sair da zona de conforto que a religião ou a igreja institucionalizada, como bem pontuou o autor, propicia a todos os que querem ter um viver social religiosamente descompromissado com Deus.

    É engraçado, esses dias estava lendo I Sm. 8, onde o povo se manifestou a Samuel pedindo um rei. Não é difiícil entender porque o povo de Israel quis um rei. Não é apenas porque eles queriam ser como as nações. Mais que isso, a leitura deixa claro que eles no fundo não queriam ter que se reportar diretamente ao Senhor. Eles o haviam rejeitado. É muito mais cômodo ter alguém humano a quem se reportar, pois esse alguém nunca será capaz de perscrutar o seu íntimo, saber realmente o que está em seu coração. Só Deus que é luz. E é fato que toda vez que nos achegamos a Deus somos expostos. Afinal, quem é que gosta de ser exposto?

    Enfim, a religião propicia uma falsa sensação de satisfação para com Deus.

  2. Samuel Says: Jan 10th,2012

    Realmente irmão, na minha percepção, por um lado não é fácil ser um cristão autêntico, no sentido de está centrado verdadeiramente em Cristo. Não sei o que é mais cruel, o mundo ou a religião. No mundo pelo menos temos consicência de que estamos afastados de Cristo. Agora na religião, mesmo afastados, achamos que estamos próximos.
    As doutrinas apontadas no texto são similáres às contidas no livro “Mein Kamph (Minha Luta)” de Adolf Hitler, obediência ao Führer (chefe) e uma pitada de misticismo em volta dele. Por isso temos que ter muito cuidado e saber dicernir o que vem do Espírito e o que vem da carne. Que o Senhor Jesus nos conceda um espírito de sabedoria e revelação.

    Na Graça

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